Steve Jobs – a magia da inovação
Recentemente a Apple tornou-se a empresa mais valiosa do mundo. Com uma capitalização bolsista de 460 mil milhões de dólares, ultrapassou a Exon-Mobil, o titã do petróleo e gás natural. 460 mil milhões de dólares é muito dinheiro, mais do dobro de toda a riqueza produzida no nosso país num ano.
Mas onde está a riqueza da Apple? Nos seus computadores? No seu software? Nos seus Iphones? No caso da Exon-Mobil é fácil perceber onde está a riqueza dado ser uma empresa gigantesca que explora plataformas petrolíferas, refinarias e distribuição de combustíveis por toda a América. E no caso da Apple, onde está a riqueza?
O ano passado, quando visitei o Silicon Valley, tive a oportunidade de entrar na sede da Apple. Dentro daquele magnífico edifício futurista em Cupertino fiz a mesma questão: o que torna esta empresa tão valiosa? Ainda não tenho resposta, mas o que me ocorre continua a ser apenas uma palavra: magia. A Apple não vende computadores, Iphones ou Ipads. Ela vende magia – ou pelo menos faz-nos acreditar nisso.
O valor da Apple não é mensurável pelas medidas contabilísticas tradicionais. É um valor que não se lê nos seus activos mas que se revela nas suas vendas. Mas será assim tão inovadora que justifique este valor? Por exemplo, a tecnologia do Ipod já existia muito antes da Apple ter lançado o seu produto. O conceito do Ipad também tinha sido proposto por uma equipa da Universidade do Colorado.
No entanto, foi preciso alguém com a visão de Steve Jobs para transformar aqueles conceitos em produtos funcionais, lindos, apetecíveis e capazes de espalhar magia. A lição é que para se criar riqueza não basta fazer coisas, ter grandes ideias ou inovar. O activo mais valioso que as empresas e países possuem não são as suas máquinas ou edifícios mas uma visão e capacitação do potencial dos seus funcionários.
Vivemos um período de grande euforia e turbulência. Os nossos filhos estão a perceber que muitos dos mitos que lhes ensinámos não passam disso mesmo. E as perspectivas não são nada animadoras. Esta crise deve-nos fazer pensar sobre o está errado na economia dos países mas que nalgumas empresas, como a Apple, está tão certo. Será que os países poderiam aprender com a empresa da maçã, ou afinal o sucesso dum e o fracasso dos outros são apenas duas faces da mesma moeda?
É repetido até a exaustão que no século XXI apenas empresas, regiões ou países inovadores irão triunfar enquanto que os outros ficaram condenados a definhar. Creio que os défices colossais, só por si, não são o maior problema dos países ocidentais. O anémico crescimento económico e o bloqueio, ou pouco estímulo, à inovação de pessoas e empresas, é sim o grande problema.
E o que é que Steve Jobs tem para ensinar neste aspecto? Aparentemente pouco: Steve foi sempre um rebelde inconformista, nunca terminou o curso e não tinha grandes contactos com pessoas influentes. Um curriculum pouco brilhante para se conseguir um trabalho nos dias de hoje. Jobs pode não ter terminado o curso, no entanto mudou o curso do mundo.
E em Portugal? Teremos nós pessoas do calibre de Steve Jobs? Seria possível nascer aqui uma Apple? A primeira pergunta respondo sim, à segunda não. Inovar é empreender, disrromper, quebrar, pensar diferente, não ter medo de falhar. É ser diferente, ter ambição, visão, e muita auto-estima. Isso são valores muito pouco cultivados entre nós. As nossas universidades preparam pessoas para serem obedientes funcionários não para serem empreendedores arrojados. Eles até podem arranjar emprego, mas o país perde o seu talento.
Tal como as pessoas, também as empresas ao envelhecer perdem a capacidade de inovar de uma forma disruptiva. A Apple luta constantemente para se manter inovadora, para surpreender. Jobs tem conseguido tornar a Apple à sua imagem: eternamente jovem, eternamente atenta ao mundo e a não ter medo de o mudar.
Portugal e a Europa tem muito a aprender com Steve Jobs.